É na chamada última fronteira agrícola,
na região do Araguaia mato-grossense, onde se prevê uma das últimas
expansões da área agricultável no estado. Aos poucos, terras degradadas
vão se tornando espaços propícios ao cultivo de lavouras de soja. Mas a
expansão que ajudará o estado a elevar a safra de grãos não está
ocorrendo com a velocidade que se previa, alertam produtores da região.
Estradas sem condições de trafegabilidade estão dificultando a chegada
de insumos até as propriedades rurais e impactado nas conversões,
descreve Gilmar Dell'Osbell, presidente do Sindicato Rural de Querência,
cidade a 912 quilômetros de Cuiabá, e vice-presidente leste da
Associação dos Produtores de Soja e Milho.
De acordo com a Aprosoja, o Araguaia
possui 6 milhões de hectares em áreas de pastagem. É a maior de Mato
Grosso, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia
Agropecuária. Destes 6 milhões de hectares, um total de 3,1 milhões
possui mais condições de ser usado na agricultura. São áreas planas, já
abertas e de solo degradado, que podem ser adaptados para o plantio de
grãos.
"Não se está conseguindo avançar na
transformação da pecuária para a agricultura da forma como queriam [os
produtores] em função que as estradas não têm condições nem para a
chegada do calcário e nem para o escoamento da produção e o tráfego de
qualquer tipo de veículo na época das chuvas", descreve Gilmar
Dell'Osbell.
A preocupação é com a chamada 'rota do
calcário', que compreende a MT-326 (ligando Cocalinho, a 765 quilômetros
da capital, até a BR-158, já na divisa com o estado de Goiás) e cuja
extensão soma imadamente 150 quilômetros. Na região estão localizadas as
duas jazidas onde é produzido o calcário para atender produtores. Mas
como explica o presidente do Sindicato Rural, trafegar pelo trecho onde
não há asfalto está custando caro.
"É uma nova fronteira agrícola, mas não
consegue avançar da forma que precisa recuperar as pastagens para
transformá-las em lavouras em função também da falta de calcário por
causa de se não se ter trafegabilidade", ressalta o produtor. Ainda
segundo o dirigente, a demanda por este produto na região gira em torno
de 1,3 milhão de toneladas.
A rota, de pouco mais de 30 quilômetros
na MT-326 entre o trevo de Nova Nazaré até a BR-158, seria a rota ideal
para levar o calcário destas jazidas até as regiões produtoras de grãos
localizadas no nordeste do estado. Porém, este trecho não está
contemplado nos programas de pavimentação estadual. E aí que entram as
reivindicações do setor produtivo.
Segundo Gilmar, ao invés desta rota de 30
quilômetros, o que está contemplado no programa de pavimentação é a
MT-240, que liga o mesmo trevo de Nova Nazaré ao município de Água Boa,
que tornará o percurso do calcário até as propriedades 40 quilômetros
mais longo.
O resultado é um percurso maior e mais tempo na estrada, além do custo
do frete, que fica mais caro. Para levarem o insumo até as sedes das
fazendas, ou mesmo retirar a produção dos armazéns produtores pagam até
R$ 2 por saca com o frete, de acordo com as distâncias das fazendas,
explica Gilmar Dell'Osbell. "As usinas não incrementam a produção porque
não têm jeito de escoar".
Indo a Goiás
Produtor em Nova Xavantina, a 651
quilômetros de Cuiabá, o produtor Endrigo Dalcin adquire os insumos
necessários para as lavouras de soja e milho diretamente de Itaberaí
(GO). Segundo ele, há mais vantagens em percorrer os quase 400
quilômetros que separam os municípios de Mato Grosso e Goiás que fazer
os 160 quilômetros em direção à jazida em Cocalinho, no Araguaia
mato-grossense.
"O acesso ao calcário é feito por
estradas de chão. Mesmo sem asfalto, mas se tivesse a manutenção seria
melhor, porque o tráfego na estrada é muito pesado", pondera o
agricultor. Na ponta do lápis, apesar de andar mais o produtor tem pago
menos na hora de comprar fertilizante no estado vizinho. A relação gira
em torno de pouco mais de R$ 90 via Goiás para outros cerca de R$ 100
pela rota do calcário.
"Se tivesse o asfalto seriam mais fáceis os 160 quilômetros", acredita o produtor de Nova Xavantina.
Recursos
Parte dos recursos utilizados pelo
governo do estado para obras nas rodovias estaduais originam-se do Fundo
de Transporte e Habitação (Fethab), cobrado no transporte de toda
produção agrícola e pecuária e objetiva financiar o planejamento,
execução e acompanhamento dos serviços nos setores de transporte e
habitação do estado.
Somente em 2011 a arrecadação total somou
R$ 568 milhões, com a soja contribuindo em R$ 123 milhões. No tocante
às obras de melhorias nas estradas, o secretário estadual de
Transportes, Arnaldo Alves, afirma que neste ano o governo deve destinar
R$ 2,2 bilhões para atender às obras nas rodovias.
Em função das obras para a Copa do Mundo em Cuiabá, o Fethab deve direcionar em torno de R$ 1 bilhão para as demandas.
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